Mapear a Nova Corrida Espacial, por João Silva
Mapear a Nova Corrida Espacial
João Silva, Head of Data & Tech and Public Policies na Startup Portugal
Este conteúdo está disponível em inglês.
Na década de 1960, o mundo assistiu com espanto à competição entre nações na Corrida Espacial, um confronto de ambição e proezas tecnológicas. Esta corrida alimentou a imaginação de uma geração, levando Yuri Gagarin ao espaço em 1961 e Neil Armstrong à Lua em 1969. Mas o que começou por ser um ponto de convergência internacional tornou-se, com o tempo, numa ambição de um só país. A Corrida Espacial acabou por perder o seu encanto, com os EUA a aterrarem na Lua pela última vez em 1971. Hoje, 50 anos depois, há uma nova onda de inovação, com as nações a voltarem de novo a sua atenção para as estrelas, apoiadas por empreendimentos privados como a SpaceX e a Virgin Galactic. Este regresso ao espaço representa mais do que orgulho nacional – fala da busca da humanidade pela exploração e dos limites do que podemos alcançar juntos.
Do mesmo modo, a atual competição mundial entre startups deu origem a um novo espírito de concorrência e progresso. Com os EUA a liderar a corrida, as startups transformaram-se em gigantes da tecnologia que transformaram as indústrias tradicionais e dominam as fileiras das empresas mais valiosas do mundo. Este crescimento veio sublinhar o poderoso impacto da inovação no desenvolvimento económico. Os pioneiros desta era das startups estão também na linha da frente das nossas aspirações espaciais renovadas, reforçando a ideia de que os empresários são motivados pelo desejo de mudar o mundo.
Para Portugal, as lições da corrida espacial e do atual panorama tecnológico são claras. Embora possamos não ter o capital necessário para participar na corrida a Marte, a nossa história de exploração marítima ensina-nos que uma ambição sem limites e uma visão estratégica podem colmatar qualquer lacuna. Tal como lançámos as nossas caravelas para explorar territórios desconhecidos no século XV, hoje temos de dar um salto semelhante, desta vez para as incógnitas da inovação tecnológica e económica.
Mas como?
Países de todo o mundo estão a competir nesta “nova corrida ao ouro”, em que os dados e a tecnologia impulsionam o avanço da sociedade. E Portugal é um dos candidatos, com a ambição de ter 5000 startups em 2025, com um marco recorde de angariação de mais de mil e quinhentos milhões de euros em capital de risco para startups em 2021, criando o cenário e deixando a sua marca no panorama global das startups. Mas isto deve ser visto apenas como um começo, pois temos de continuar a subir a parada cada vez mais alto, e a nossa posição está sempre a equilibrar-se, pelo que temos de aproveitar cada momento para reavaliar e estabelecer novos e ambiciosos objetivos.
Num mundo cada vez mais definido pela proeza digital, a capacidade de mapear e compreender o nosso ecossistema de startups torna-se essencial. A criação de startups já não é apenas uma questão de crescimento económico; tornou-se uma medida da vitalidade de um país e do seu potencial para promover a inovação tecnológica. A recolha de dados exatos, a configuração e o mapeamento do ecossistema são fundamentais para demonstrar este esforço. Portugal deu um claro passo em frente com uma definição legal de startup e a informação que fornecemos está a tornar-se cada vez mais fiável, tornando-se um padrão para a Europa e para o mundo.
Quando damos prioridade a estes elementos, construímos credibilidade e uma base que apoia a definição de políticas sólidas e o investimento direcionado, criando as condições ideais para que os empreendedores prosperem e o nosso país seja a incubadora de grandes projetos.
No entanto, para nos mantermos competitivos, temos de adotar esta mentalidade inovadora e continuar a insistir. Precisamos de políticas que continuem a apoiar a assunção de riscos e de uma mudança social que ultrapasse as crenças limitadoras. A nossa história prova que somos uma nação de navegadores e exploradores; agora, temos de canalizar esse mesmo espírito para alimentar as startups que irão definir a próxima geração da indústria portuguesa.
O ritmo implacável da economia digital exige que nos mantenhamos alerta, analisando constantemente, inovando e procurando mais para nos mantermos competitivos no palco global. A informação é, de facto, o novo petróleo e, se a gerirmos com visão e ambição, alimentará um futuro próspero. A “corrida aos dados” só pode beneficiar Portugal se for ponderada e bem informada. E, ao continuarmos esta viagem, devemos lembrar-nos que as grandes empresas portuguesas de amanhã podem ainda ser apenas ideias à espera de serem implementadas.
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