“A força da nossa comunidade é enorme”: com a startUP Montemor-o-Novo
A startUP Montemor-o-Novo aposta na incubação sustentável no coração do Alentejo. Conversámos com Teresa Biléu, Coordenadora da startUP Montemor-o-Novo, e com Daniel Pedreira, Chefe da Divisão de Planeamento e Apoio ao Desenvolvimento Económico no Município de Montemor-o-Novo, para nos explicarem a sua missão e visão.
Este conteúdo está disponível em inglês.
– Como surgiu a startUP Montemor-o-Novo? Que tipo de projetos incubam?
A startUP Montemor-o-Novo abriu portas em 2013, fruto da vontade do Município em apoiar a criação de novas empresas e estimular o espírito empreendedor no concelho. Desde a sua inauguração até junho de 2021, esteve sob gestão de uma entidade externa, passando nessa data a estar sobre a exclusiva gestão do Município de Montemor-o-Novo.
A incubadora dispõe de, para além dos convencionais espaços de cowork, 8 espaços Box com perfil industrial multiusos. Estes espaços permitem incubar projetos industriais, de prototipagem ou pequenas indústrias, sendo exemplo uma olaria, uma destilaria, uma empresa na área do desenvolvimento de equipamentos para a indústria, uma empresa na área do I&D, uma empresa de artes gráficas e uma empresa na área da produção de tintas feitas a partir de bio resíduos. Nos espaços de cowork, acolhemos empresas ligadas ao marketing, design, gestão de redes sociais e manutenção de piscinas.
– Em que consiste o vosso modelo de incubação?
O nosso modelo de incubação divide-se em 3 programas distintos, de acordo com as necessidades e o estádio de cada projeto.
Temos, em primeiro lugar, o programa de incubação física em espaço Box, focado nas empresas com componente produtiva. Para além de disponibilizarmos os espaços Box, essenciais para o desenvolvimento deste tipo de atividades, disponibilizamos serviços básicos e serviços especializados, onde se destaca a consultoria em logística, pensada especificamente para estas empresas. Nesta modalidade, a equipa técnica presta acompanhamento aos empreendedores, através de reuniões bimensais.
De seguida, temos um programa com incubação física em espaço de cowork, para os projetos que não necessitam de um espaço físico para desenvolvimento de produto ou protótipo. Estes têm igualmente acesso aos serviços básicos e a serviços especializados prestados pela equipa técnica ou por parceiros externos, como consultores protocolados ou parceiros, adaptados às suas necessidades, como na área da gestão ou contabilidade. Também neste programa fazemos o acompanhamento das empresas, com a regularidade mínima bimensal.
Por fim, o programa de incubação virtual que, não incluindo espaço físico, dá acesso às empresas aos serviços especializados já referidos e ao acompanhamento.
As 3 modalidades dão às empresas acesso aos consultores, à rede de contactos, aos meios de comunicação da incubadora e do Município, aos eventos organizados pela incubadora e pelos seus parceiros, e ainda à divulgação e esclarecimento de dúvidas sobre apoios e oportunidades de financiamento.
– Conta-nos a história de uma startup que tenha marcado a incubadora? E onde é que a incubação convosco fez a diferença?
Não é fácil nomear apenas um projeto nem é justo fazê-lo, mas iremos referir dois projetos que estiveram incubados, que ganharam asas e continuam a crescer fora das nossas instalações.
O primeiro trata-se do empreendedor Nuno Feijoca que começou sozinho num espaço de cowork, na área da comercialização e venda a retalho de produtos de cosmética capilar e estética. O negócio e a equipa cresceram e passou a ocupar um espaço Box. Quando saiu da incubadora, conseguiu estabelecer-se num espaço de cerca de 1500m2 em Montemor-o-Novo, tendo mais recentemente enveredado pela área da formação, utilizando a sala de formações da incubadora para estes serviços.
Outro empreendedor, o David Figueira, em 2015 começou um projeto ligado à sustentabilidade através da comercialização de copos reutilizáveis, ocupando também um espaço Box. O projeto evoluiu para o desenvolvimento de novas soluções amigas do ambiente, como os cinzeiros de várias dimensões feitos a partir de bambu. Atualmente, a Ecoality continua a comercializar os seus produtos, mas também a promover ações de sensibilização ambiental e a prestar serviços de consultoria em Economia Circular, Zero Waste e Upcycling.
– Falhar também faz parte do caminho. Qual a maior aprendizagem com algo que não correu bem?
Falhar deve ser encarado como uma forma de aprendizagem, e está sem dúvida presente no percurso de qualquer empreendedor (ou incubadora), é o que permite crescer e melhorar. Falhar e voltar a tentar também nos torna mais resilientes, característica muito necessária aos empreendedores, que ao longo do seu percurso vão ter momentos de dúvida, de angústia e ponderar desistir.
No caso concreto da incubadora, já existiram momentos em que falhámos e certamente no futuro existirão outros. Um exemplo são os casos em que empenhamos muito na organização de uma iniciativa, mas acabamos por não ter o retorno esperado em termos de participação. Estas situações levam a um imediato sentimento de que falhámos em algum aspecto, o que é muito frustrante. No dia seguinte, analisamos o que aconteceu, encontramos os aspetos a melhorar e a não repetir, com a convicção de que não iremos desistir.
– Qual é o fator diferenciador da vossa incubadora? Por outras palavras, o que é que vocês têm de único que potencia o sucesso das startups que incubam?
Um dos fatores diferenciadores é, sem dúvida, a própria infraestrutura da incubadora, e os espaços de incubação que disponibilizamos, particularmente os espaços Box. Estes espaços têm perfil industrial multiusos, o que significa que um empreendedor que necessita de desenvolver um protótipo ou implementar uma pequena indústria consegue fazê-lo com todas as condições necessárias, e a preços mais reduzidos do que os praticados no mercado. Sabemos que muitos projetos não chegariam a existir se não os nossos espaços Box não existissem.
Outro fator diferenciador diria que é a disponibilidade e acompanhamento permanentemente aos nossos incubados, seja para o que for. A porta do gabinete técnico está sempre aberta para receber as nossa empresas, para os ouvir e apoiar naquilo que necessitam. Nem sempre existem respostas e soluções imediatas e nem sempre conseguimos resolver todas as necessidades, mas tentamos sempre encontrar uma solução, seja internamente ou através dos nossos parceiros.
Por fim, a força da nossa comunidade é enorme. A partilha, por um lado de ideias, das vitórias, das angústias e das dores de crescimento, por outro lado o sentido de partilha dos recursos de cada um mostra que as nossas empresas sabem que podem contar com o colega de sala ou vizinho da Box ao lado, para aquilo que precisarem. Este sentido de comunidade é muito valorizado pelos nossos empreendedores.
– Que tipo de projetos ou startups estão agora à procura?
Atualmente temos uma taxa de ocupação de 100% no espaços Box, pelo que estamos a focar-nos em atrair projetos/startups que necessitam de outro tipo de espaços e apoio, nomeadamente as que utilizarão os espaços de cowork, em particular projetos nas áreas das indústrias culturais e criativas e valorização dos recursos endógenos.
– A comunidade é um dos fatores que distingue uma incubadora de um centro de escritórios. Como cuidam da vossa e que planos têm para a tornar mais coesa e fértil?
Orgulhamo-nos muito da nossa pequena, mas grande comunidade, sendo uma das nossas prioridades trabalhar as relações com e entre incubados. Este trabalho é particularmente importante quando a startUP Montemor-o-Novo atrai empreendedores que não são montemorenses, que acabaram por mudar-se para Montemor-o-Novo e não têm uma rede familiar ou de amigos no Concelho. Nestes casos, é ainda mais importante que estes empreendedores se sintam acolhidos e parte da comunidade.
Em paralelo, promovemos momentos de encontro, uns mais outros menos informais entre incubados. Aliás, devido à própria dinâmica do espaço e das nossas empresas, acabamos por praticamente todos os dias nos encontrarmos uns aos outros, para tomar um café, para almoçar e, invariavelmente, acabamos por ter momentos de partilha entre incubados e a equipa da incubadora. Podemos dizer que foi durante uma pausa para café que surgiram ideias, parcerias e novos produtos desenvolvidos em conjunto por 2 ou mais empresas incubadas.
– Quais são os principais desafios para a incubação, no vosso contexto concreto?
Diria que o principal desafio passa pela falta de massa crítica, e consequente dificuldade em captar projetos que se enquadram nos propósitos da incubadora. Estamos localizados no Alentejo, uma região muito vasta, mas com baixa densidade populacional e empresarial, com igual dificuldade em reter recursos humanos qualificados, quer aqueles que poderiam vir a enveredar pelo empreendedorismo quer aqueles recursos humanos qualificados que as startups querem recrutar.
Dentro desta dificuldade, existe a dificuldade acrescida em captar empreendedores/empresas para os nossos espaços cowork, que no nosso caso são essencialmente na área dos serviços. Estes empreendedores vêm a nossa localização (zona industrial) como sendo menos atrativa e conveniente do que, por exemplo, estarem no centro da cidade, algo que, com o tempo, temos provado que não é bem assim.
Adicionalmente, existe o desafio de tentarmos fazer sempre o melhor para os empreendedores incubados e, em paralelo, captar novas empresas, com os recursos humanos limitados que integram a equipa da startUP Montemor-o-Novo.
– Querem partilhar connosco alguma novidade? Algum evento ou alguma iniciativa que devemos todos ter na nossa agenda?
No último trimestre de 2024, teremos mais uma edição do nosso Mês do Empreendedorismo, com uma programação repleta de workshops, seminários e sessões dedicadas a temas relevantes para empreendedores e startups.
SOBRE O #INCUBXDISCOVERIES
#IncubXdiscoveries é a rubrica mensal da Startup Portugal que vai ajudar-te a descobrir as incubadoras portuguesas. Que projetos incubam, como gerem a sua comunidade e que casos de sucesso tiveram e projetos futuros, são alguns dos temas abordados nestas entrevistas.
Se gostarias de conhecer melhor a startUP Montemor-o-Novo, porque gostarias de ver o teu projeto incubado nesta região ou porque queres estabelecer uma parceria, contacta a equipa da Startup Portugal através do e-mail incubadoras@startupportugal.com.
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