“Com a metodologia de ‘porta aberta'”: a Startup Madeira não é uma ilha
Com uma forte aposta no empreendedorismo e na inovação, a Startup Madeira tem vindo a impulsionar o ecossistema local de forma significativa. Conversámos com Carlos Soares Lopes, Presidente Executivo da Startup Madeira, para descobrir o que distingue esta incubadora e os desafios que se avizinham no apoio às startups da região.
Este conteúdo está disponível em inglês.
– Como surgiu a Startup Madeira? Que tipo de projetos incubam?
A Startup Madeira é a entidade responsável pela dinamização do empreendedorismo e inovação na Madeira e conta com o apoio do Governo Regional nesta sua missão. Esta incubadora, situada junto à Universidade da Madeira e certificada pela rede europeia EBN como BIC – Business Innovation Centre, reúne a experiência de uma equipa que trabalha o empreendedorismo, a inovação, a transferência de conhecimento e apoio ao tecido empresarial desde 1997.
A nova marca – Startup Madeira, apresentada em 2016, trouxe juventude, atualidade, desafios e uma relação direta com a Startup Portugal e a Rede Nacional de Incubadoras. O apoio a startups tem sido evidente no portfólio de empresas e projetos incubados, sendo que IoT, energia, realidade aumentada, soluções Web, mobilidade, impacto social e ambiental, sustentabilidade, saúde e bem-estar, indústrias criativas, big data ou cibersegurança são algumas das áreas mais exploradas pelos nossos empreendedores.
– Em que consiste o vosso modelo de incubação?
Disponibilizamos diversos espaços físicos devidamente equipados, assim como apoio ao nível administrativo, mentoria e consultoria diversa. O principal objetivo da incubadora é proporcionar as condições necessárias para que as empresas possam ser alavancadas e para que a sua entrada no mercado se faça de uma forma estável e com uma redução significativa de risco.
Além dos tradicionais serviços de incubação física, cowork e escritórios virtuais, a nossa incubadora desenvolve um conjunto de programas de apoio ao ecossistema. Além de projetos de empreendedorismo nas escolas, programas de ideação e aceleração, hackathons, conferências temáticas e workshops, também proporcionamos o contacto dos nossos empreendedores com parceiros locais, nacionais e internacionais.
Nos últimos anos, diretamente para startups internacionais, temos desenvolvido um programa de aceleração na área do turismo e lazer – Madeira Startup Retreat, com o apoio do Turismo de Portugal. Recentemente apresentamos um programa de aceleração na área no desenvolvimento de videojogos – Gaming Startup Retreat, uma iniciativa desenvolvida com o apoio do PRR ao consórcio eGamesLab, no âmbito das agendas mobilizadoras.
– Conta-nos a história de uma startup que tenha marcado a incubadora? E onde é que a incubação convosco fez a diferença?
Existem muitos projetos e empreendedores que marcaram a incubadora durante estes 27 anos de existência, em diferentes áreas, fases de crescimentos e de impacto económico, social, cultural e ambiental. A Awaiba e a WalkMe são dois exemplos que sumarizam o tipo de projetos e empreendedores que temos vindo a apoiar.
A Awaiba iniciou a atividade em 2004, com 2 colaboradores na incubadora, enquanto realizavam um projeto de I&D para a câmara digital mais pequena do mundo, atualmente utilizada em material da endoscopia médica. Esta equipa cresceu até meia centena de colaboradores, centralizando na Madeira o desenvolvimento e na Alemanha o marketing e vendas, alcançando vários clientes pelo mundo.
A WalkMe Mobile Solutions, nasceu de um projeto universitário de 3 jovens que frequentavam o Mestrado em Engenharia Informática na Universidade da Madeira. Entre 2014 e 2022 estiveram na nossa incubadora, desenvolvendo fases distintas dos projetos, desde uma aplicação móvel sobre levadas na Madeira e novas soluções na área dos jogos móveis. Atualmente, com atuação mundial, têm mais de 40 milhões de downloads em 12 idiomas.
– Falhar também faz parte do caminho. Qual a maior aprendizagem com algo que não correu bem?
Alguns projetos não avançam por falta de clientes, mercado, financiamento e modelo de negócio desajustado. Mas existe algo que é mais importante do que tudo isto, a equipa tem de estar em sintonia para o desenvolvimento do projeto. Já acompanhamos projetos fantásticos que não tinham a equipa adequada e projetos simples com empreendedores determinados e com capacidade de ouvir e se adaptar… quem desenvolve essas capacidades tem muito mais probabilidade de sair vencedor, mesmo que tenha de mudar e adaptar o projeto inicial.
– Qual é o fator diferenciador da vossa incubadora? Por outras palavras, o que é que vocês têm de único que potencia o sucesso das startups que incubam?
O facto de estarmos localizados na Região Autónoma da Madeira, termos uma visão ampla do ecossistema, termos desenvolvido ligações fortes a parceiros e redes nacionais e internacionais e sermos uma equipa experiente e estável são os nossos principais elementos diferenciadores.
Como facilitadores de contactos e ponto conector com entidades locais, nacionais e internacionais, agilizamos de forma dinâmica, atualizada e progressiva do ecossistema local, juntando investigadores, empreendedores, empresários, investidores, curiosos e criativos à volta desta temática, que contribuem para a valorização da nossa região enquanto hub de empreendedorismo, inovação, conhecimento e excelência.
No total, são cerca de 26 os parceiros regionais, nacionais e internacionais com quem trabalhamos regularmente, desde incubadoras, aceleradoras, associações, centros de investigação, investidores e fundos de capital de risco. Estes parceiros possibilitam expandir o conhecimento, ferramentas e oportunidades para os nossos empreendedores e startups.
– A comunidade é um dos factores que distingue uma incubadora de um centro de escritórios. Como cuidam da vossa e que planos têm para a tornar mais coesa e fértil?
Não só acompanhamos constantemente a nossa comunidade da incubadora, com a metodologia de “porta-aberta”, como ao longo do ano são organizados momentos de união e convívio entre os empreendedores do ecossistema, locais e internacionais, como o “happy-friday” e networking sessions, até divulgação de oportunidades para participar em conferências, sessões temáticas, participações em feiras e demais momentos que acrescentam valor aos empreendedores. Os nossos planos são de continuar a criar momentos de partilha de conhecimento, networking e convívio, sempre que seja possível, conveniente e enriquecedor.
– Quais são os principais desafios para a incubação, no vosso contexto concreto?
Como atuamos numa ilha, os nossos maiores desafios são a dimensão do mercado, a atração e retenção de talento e custos de contexto. No entanto, acreditamos que as novas tecnologias permitem agora ultrapassar muitas barreiras anteriormente existentes e que permitirão a diversificação da nossa economia. Neste momento em que o trabalho remoto é mais aceite, é também o momento certo para a aposta no empreendedorismo, inovação e apoio a novas startups que podem operar da Madeira para o mundo.
– Querem partilhar connosco alguma novidade? Algum evento ou alguma iniciativa que devemos todos ter na nossa agenda?
Recentemente fomos ao Brasil à final mundial da competição GameJamPlus, em junho, para acompanhar a equipa madeirense 10.10 com o jogo meowsterchef, que venceu a competição como melhor jogo europeu.
Para mais informações sobre estas iniciativas e demais eventos, poderão consultar o nosso website www.startupmadeira.eu e seguir as nossas redes sociais.
SOBRE O #INCUBXDISCOVERIES
#IncubXdiscoveries é a rubrica mensal da Startup Portugal que vai ajudar-te a descobrir as incubadoras portuguesas. Que projetos incubam, como gerem a sua comunidade e que casos de sucesso tiveram e projetos futuros, são alguns dos temas abordados nestas entrevistas.
Se gostarias de conhecer melhor a Startup Madeira, porque gostarias de ver o teu projeto incubado nesta região ou porque queres estabelecer uma parceria, contacta a equipa da Startup Portugal através do e-mail incubadoras@startupportugal.com.
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