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“Manter o espírito de comunidade é fundamental”: a Sanjotec a dar cartas

“Manter o espírito de comunidade é fundamental”: a Sanjotec a dar cartas

À conversa com Ana Sampaio, Head of Operations da SANJOTEC – Parque de Ciência & Tecnologia de S. João da Madeira, fomos perceber como é que esta história de 15 anos tem transformado o ecossistema.

Este conteúdo está disponível em inglês.

 

Como surgiu a SANJOTEC? Que tipo de projetos incubam?

A SANJOTEC é um Parque de Ciência e Tecnologia focado no apoio ao empreendedorismo e na aceleração de projetos de base tecnológica, que, posicionando-se numa região fortemente industrial, tem vindo a criar um ecossistema empresarial ligado à Indústria 4.0 e ao desenvolvimento de novos produtos, contando atualmente com um universo de 50 projetos empresariais em diferentes estágios de desenvolvimento, na sua grande maioria com uma forte componente exportadora.

A criação da SANJOTEC há 15 anos tem vindo a contribuir para apoiar o desenvolvimento da região e da cidade de S. João da Madeira, tirando proveito da herança fortemente industrial, que residia no fabrico de chapéus, calçado e indústria automóvel, permitindo acrescentar valor e potenciar a transição de uma estrutura económica baseada nas indústrias tradicionais, desenvolvendo um ecossistema integrado e complementar entre estas e as indústrias tecnológicas e criativas.

A SANJOTEC contribuiu assim para impulsionar um competitivo cluster industrial, onde se concentram empresas complementares, concorrentes, fornecedores e instituições associadas, potenciando o desenvolvimento de sinergias, bem como a agilização da transferência de tecnologia entre as unidades do Sistema C&T e as empresas da região.

 

Têm alguma área de especialização?

A SANJOTEC tem como foco o encorajamento a projetos empresariais de base tecnológica, nomeadamente nas áreas da Indústria 4.0, Robótica, Automação Industrial, Biotecnologia, Química, Design e Tecnologias da Informação, não descurando também o apoio a projetos das áreas das Indústrias Criativas ou da Inovação Social.

Os números das empresas deste ecossistema têm sido expressivos. O volume de negócios ascendeu aos 67M€ em 2023, sendo que 72% são exportações. Foram gerados mais de 400 empregos qualificados na região (27% do sexo feminino). De referir ainda que 90% deste universo possui formação superior, destacando-se ainda a vincada tendência de recrutamento de colaboradores estrangeiros e captação de talentos internacionais.

 

Em que consiste o vosso modelo de incubação?

A SANJOTEC visa apoiar as startups ao longo das suas diferentes fases de desenvolvimento através de programas especificamente desenvolvidos, e que podem compreender a modalidade de incubação física ou virtual, de acordo com as necessidades dos projetos empresariais.

A SANJOTEC disponibiliza aos empreendedores recursos físicos indispensáveis, tais como espaços de trabalho, salas de reunião, salas de formação e outros equipamentos, como a Happiness Room e Reading Corner, mas também oferece um leque diversificado de serviços avançados, mentoring e acompanhamento individualizado dos projetos empreendedores, para além do acesso a toda uma rede de parcerias estratégicas estabelecidas.

A SANJOTEC desenvolveu ainda o CREATECH, um programa customizado de Capacitação e Aceleração de projetos empreendedores, nos seus diferentes estágios. Numa fase inicial, é destinado à consciencialização, geração de talento e de apoio à transformação da ideia em negócio e subsequente incubação e capacitação na fase inicial de vida da startup. Já numa fase posterior, este programa apoia o amadurecimento das startups, capacitando-as para o seu crescimento sustentado, na vertente de aceleração e internacionalização.

 

Conta-nos a história de uma startup que tenha marcado a incubadora? E onde é que a incubação convosco fez a diferença?

Felizmente, a SANJOTEC tem contado com um portfólio de empresas de referência e success stories, entre as quais, casos de captação de investimento estrangeiro. Um bom exemplo será a CreativeSystems / Sensormatic, pioneira na implementação da tecnologia RFID em diversos setores, atualmente Centro Europeu de Competências de RFID da Johnson Controls Retail Solutions.

As áreas são diversificadas, desde setores de especialização da região como o calçado, a outros emergentes, como o caso da Adventech, pioneira na península ibérica, e que cria Unidades de Tratamento de Efluentes Industriais com tecnologia de ponta. Mais recentemente, existe ainda a aposta no aeroespacial, e contamos com empresas de sucesso como a Spin.Works, que desenvolve estruturas e mecanismos de atuação, sistemas de guiamento, navegação e aterragem automática noutros corpos celestes (Lua, Marte, asteróides).

Para este crescimento, tem contribuído a capacidade que a SANJOTEC tem demonstrado, ao longo dos anos, não só em aumentar o valor acrescentado dos serviços e recursos disponibilizados e adaptá-los às necessidades das empresas, mas também na criação e robustecimento contínuo de um conjunto de parcerias para a empregabilidade, empreendedorismo e inovação com entidades de referência.

 

Falhar também faz parte do caminho. Qual a maior aprendizagem com algo que não correu bem?

Muitas vezes é difícil para os empreendedores aceitarem que os seus projetos não atingem o sucesso esperado, e até para nós, que acreditamos no seu potencial, ver que muitos acabam por não resistir, apesar de inicialmente as ideias poderem até ter muito potencial e serem disruptivas. Ajudar os empreendedores a compreender que falhar faz parte de todo o processo e ajudá-los a encontrar um novo rumo para os seus projetos é importante.

Mas isto acaba também por nos ajudar a compreender que é importante fornecer um maior acompanhamento e a tentar investir cada vez mais em melhores serviços e recursos ao dispor dos empreendedores e adaptados não só às suas realidades, como também à evolução que vemos à nossa volta.

 

 

Qual é o fator diferenciador da vossa incubadora? Por outras palavras, o que é que vocês têm de único que potencia o sucesso das startups que incubam?

Através da disponibilização de espaços e respostas adequadas às necessidades e estádios de desenvolvimento das empresas, este ecossistema caracteriza-se por possibilitar maiores índices de sobrevivência e de sustentabilidade dos negócios, permitindo a transição para áreas de acolhimento para empresas em maturação no PCT, disponibilizando o ambiente propício com proximidade estratégica às Indústrias Tradicionais, Tecnológicas e Criativas, e às entidades do sistema de I&I.

Complementarmente, são promovidas diversas ações com vista à promoção do empreendedorismo, desde a interação e sensibilização dos diferentes públicos para o empreendedorismo e a inovação (públicos jovens e universitários), à realização de encontros entre empreendedores e entidades do sistema de I&I, aproximação à indústria e centros de I&D+i, Open Days com iniciativas de abertura e de relação com a comunidade, iniciativas de capacitação e formação, eventos informais de networking entre a comunidade, e ainda arenas de investimento para facilitar o acesso ao capital de risco com entidades parceiras.

 

A comunidade é um dos fatores que distingue uma incubadora de um centro de escritórios. Como cuidam da vossa e que planos têm para a tornar mais coesa e fértil?

Manter o espírito de comunidade é fundamental em estruturas de incubação. Sabemos inclusivamente que é através destas interações entre startups que surgem parcerias, e inclusivamente muita aprendizagem (até mesmo com os erros que outros colegas já cometeram).
Na época do COVID e com a adoção do teletrabalho por parte de muitas empresas, verificamos algumas dificuldades em continuar a fomentar este espírito, pelo que temos que nos adaptar constantemente às realidades e desafios.

Temos, portanto, uma forte aposta no fomento de encontros mais informais de partilha de conhecimento e de apresentação de novas empresas à comunidade, com iniciativas como os ‘Encontros ao Pequeno-almoço’ ou até mesmo o ‘SUNTECH’ que vamos realizar agora em julho e onde pretendemos juntar a comunidade num ambiente descontraído com música e cocktail drinks.

Temos investido também recentemente na disponibilização de novos espaços que possibilitem melhores condições para a nossa comunidade, nomeadamente novos espaços de lazer e que proporcionem bem-estar à comunidade, como a Happiness Room – que dispõe de mesa de matrecos, ping-pong, setas, entre outros – , a Reading & Gambling Corner – com um conjunto de 100 livros que vão sendo alterados todos os meses, em parceria com a biblioteca da cidade – e ainda um Estúdio de Pilates e até uma Tech Mums Room. Para além disso, inauguramos este ano um novo Bar – Byte Bistrô – completamente remodelado, onde esperamos que seja um ponto de encontro para a comunidade.

 

Quais são os principais desafios para a incubação, no vosso contexto concreto?

Os projetos empreendedores apoiados pela SANJOTEC têm diferentes perfis e realidades, sendo um grande desafio fornecer uma resposta ajustada às suas necessidades. São apoiadas e potenciadas ideias de negócio em fases embrionárias, assim como empresas em fase de expansão e crescimento.

Para além disso, no nosso contexto de encorajamento de projetos empresariais de base tecnológica, orientados para a Indústria 4.0, Robótica e Automação Industrial, verifica-se que existe à data de hoje uma oferta deficitária a nível de infraestruturas para acolhimento de projetos, face às necessidades que este tipo de empresas apresenta na sua fase de aceleração. Verifica-se, por isso, a necessidade de reforçar e criar Infraestruturas que possibilitem o crescimento de projetos destas realidades, nomeadamente a instalação de laboratórios e espaços industriais ajustados.

 

Querem partilhar connosco alguma novidade? Algum evento ou alguma iniciativa que devemos todos ter na nossa agenda?

Julgamos relevante mencionar que a SANJOTEC apostou recentemente no desenvolvimento da sua política verde e no estabelecimento de um novo posicionamento mais sustentável – SANJOTEC GREEN+, com vista a criar um Ecossistema + verde, pretendendo contribuir para o desenvolvimento sustentável, na dimensão ambiental, económica e social. Neste âmbito, já lançamos algumas iniciativas, como o investimento na componente de bem-estar com a disponibilização de novos espaços para as empresas, mas também investimos na poupança hídrica, poupança energética, na instalação de carregadores para veículos elétricos, entre outras medidas que vão ser implementadas ao longo ano, como um Bootcamp de Empreendedorismo Circular e uma ação de Formação nesta área. Iremos ainda lançar em setembro o Concurso ‘INnovate My City’, o qual desafiará empreendedores a proporem soluções para problemas urbanos da cidade e que contará com atribuição de um prémio monetário.

 

SOBRE O #INCUBXDISCOVERIES

#IncubXdiscoveries é a rubrica mensal da Startup Portugal que vai ajudar-te a descobrir as incubadoras portuguesas. Que projetos incubam, como gerem a sua comunidade e que casos de sucesso tiveram e projetos futuros, são alguns dos temas abordados nestas entrevistas.

Se gostarias de conhecer melhor a SANJOTEC, porque gostarias de ver o teu projeto incubado nesta região ou porque queres estabelecer uma parceria, contacta a equipa da Startup Portugal através do e-mail incubadoras@startupportugal.com.

 

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Startup Portugal Team • Julho 5, 2024

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