Tratar Por Tu: Como Tornar a Medição de Impacto Mais Eficiente, por Inês Sequeira
Tratar Por Tu: Como Tornar a Medição de Impacto Mais Eficiente
Escrito por Inês Sequeira, Fundadora e Diretora da Casa do Impacto
O conceito de Medição de Impacto pode ser um pouco assustador para quem ainda não o trata por tu. Na Casa do Impacto, tomámos a decisão de aceitar a convivência e hoje mantemos uma relação sem tabus com esta ferramenta que norteia a nossa vida e garante eficiência ao longo da mesma.
Trata-se do processo de analisar, calcular e monitorizar mudanças, positivas e negativas, resultantes de uma intervenção, iniciativa, programa, projeto ou organização. Na medição é fundamental existir um correto entendimento e aplicação do modelo lógico à organização ou projeto específico, de forma a medir o impacto no problema que origina a intervenção social e a criação de valor para a sociedade.
Como hub de Empreendedorismo de Impacto que tem como objetivo promover uma mudança sistémica, apenas possível a longo prazo, o acompanhamento e consequente avaliação das diferentes iniciativas é vital. A Medição de Impacto é a ferramenta que temos vindo a implementar para melhor nortear as nossas decisões e compreender de forma cada vez mais informada, através de dados concretos, se estamos a ir na direção certa. Obriga-nos a uma constante autoanálise e à definição de estratégias para manter a consistência e a qualidade do impacto que fazemos, além da coerência na sustentabilidade a longo prazo.
A Medição de Impacto, e a sua gestão, desempenham um papel crucial no contexto do desenvolvimento sustentável na medida em que, quanto mais dados tiverem os decisores, públicos ou privados, mais informado e responsável será o processo de tomada de decisão. No entanto, este mecanismo não se trata apenas da materialização da responsabilidade moral das instituições; a implementação de um sistema de medição e avaliação de impacto traz vantagens como a diferenciação competitiva, acesso a financiamento, inovação e identificação de novas oportunidades de negócio, mais eficiência e credibilidade.
Atualmente a cultura de dados é ainda tímida, o que generaliza a ideia de falta de transparência em vários setores da sociedade. As diferentes metodologias inerentes à medição tornam difícil definir uma regra que se possa aplicar a todas as organizações o que, no entanto, torna a ferramenta mais abrangente e adaptável às diferentes atividades e intervenções específicas que uma organização pode querer avaliar. É essencial reconhecer a complexidade e subjetividade envolvidas na Medição de Impacto, exigindo a necessidade de abordagens flexíveis para diferentes contextos e objetivos.
Desenho e Implementação
O desenho de sistema de medição e avaliação de impacto pode variar, mas, para um empreendedor ou startup, o processo envolve tipicamente quatro passos:
1º – Planeamento:
Definição da estratégia: clarificar os objetivos e o propósito do processo de Medição. As organizações necessitam de identificar o que desejam alcançar, estabelecendo metas claras para esse fim;
Envolvimento das partes interessadas: identificar as partes interessadas relevantes e envolvê-las no processo desde o início, compreendendo assim as suas perspectivas, prioridades e expectativas;
Planeamento da abordagem: Desenvolver um plano abrangente para todo o processo de Medição: selecionar metodologias apropriadas, definir resultados, estabelecer métodos de recolha de dados e definir prazos.
2º – Recolha:
Recolha de dados: recolha dos dados relevantes para avaliar o seu valor social. Esta fase baseia-se na implementação dos métodos de recolha de dados delineados no plano, como questionários, entrevistas, grupos focais, revisões de documentos e análise de dados secundários;
Armazenamento e gestão de dados: Organizar, armazenar e analisar os dados usando ferramentas e técnicas apropriadas.
3º – Análise:
Avaliação de Impacto: As organizações necessitam de analisar os dados recolhidos para avaliar o seu impacto. Nesta análise avaliam os resultados e impactos das suas atividades, identificam pontos fortes e fracos e compreendem os fatores que contribuem ou dificultam o atingir das metas definidas.
4º – Melhoria contínua e comunicação:
Comunicação: comunicar os seus resultados de forma eficaz às partes interessadas;
Aprendizagem e melhoria: A aprendizagem contínua e a melhoria são fundamentais para maximizar o impacto social. Refletem sobre os resultados do processo de medição, identificam lições aprendidas e implementam alterações para melhorar a eficácia e a eficiência ao longo do tempo.
O desenho e implementação de um sistema de medição e gestão de impacto pode tornar-se supérfluo se não existir integração de uma cultura de dados nos decisores para que o impacto acompanhe a estratégia e o planeamento macro da organização e não seja visto como um processo secundarizado por questões de compliance. A par disso, a medição não se pode limitar ao valor financeiro arrecadado ou à definição de “Unicórnio”. A eficiência e dimensão do Impacto são dois fatores de autoridade que validam os passos que nos vão permitir perceber se estamos no (bom) caminho para alcançar o objetivo máximo que, no nosso caso, é a tão ambicionada mudança sistémica que pretendemos alcançar com a resolução dos problemas sociais e ambientais.
É preciso que exista uma vontade generalizada de conhecer pessoalmente a Medição de Impacto e de começar a tratá-la por tu.
Se estás pronto para dar esse passo, o guia do Social Value Internacional é uma boa forma de começar.
Se ainda estás de pé atrás, talvez a 55+, startup residente na Casa do Impacto, te consiga convencer do contrário com o seu Guia de Avaliação de Impacto e Relatório 2020-2023.
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